Amor. O único sentimento que vejo como importante no momento. Um sentimento misterioso, intangível, infravisível. Não sei o que é o amor. Não conheço o amor, ninguém me apresentou o amor. Talvez o conheça por outro nome, mas como saber que é ou se é amor? O que sinto agora, o que senti nos últimos anos, talvez não seja amor. Talvez seja desespero. Vontade. Paixão? Qual a diferença entre paixão e amor? A intensidade, a duração? Quais os números exatos de cada equação? Qual variável pode mudar cada uma delas?
Sinto o que sinto e acho, sempre achei, ou comecei depois de certo ponto a achar que era amor. Mas por quê? Eu mesmo me forcei a achar isso. Eu mesmo me forcei a achar isso?
Talvez seja um teste. De quem? Eu não tenho certeza do que acredito. É só escolher qualquer uma. É isso? Um teste para ser salvo? Para ser salvo de quê? De mim mesmo. Eu não me entendo, eu não me conheço. Ninguém me conhece. Tenho que entender o amor para entender a mim mesmo.
Quanto tempo durarei assim, na indecisão e depressão e estupidez de não entender o amor. É esse o que acho que seja o teste. Deus quer ver quanto tempo eu aguento deste jeito, desse jeito. Eu tenho que desistir, e admitir que não, nunca vou compreender. É simples. Eu tenho que morrer. Suicídio. Ou talvez seja o oposto. Quanto tempo eu aguento até o suicídio. E os anjos fizeram apostas sobre mim. Mas eu não vou me matar. Não. Morrer não muda nada, muda tudo. Eu vou viver, tentar entender o amor. Achar alguém que me explique. Alguém que queira me explicar. Alguém que me apresente: este é o amor.
Mas não vou viver por coragem minha. Não vou viver por resistir. Vou viver por medo. Do que vem, ou talvez venha. Vou viver por que sou covarde para me decidir. Vou ficar no limbo da decisão — ou indecisão — para o resto da vida. Sem ação. Por medo, pura covardia. Medo da repetição, medo. Fico no limbo. Quando saí do limbo, vi a verdade; minhas ilusões se desmancharam, se confirmaram. Fico no limbo. Um ano no limbo, dois anos no limbo. Fico no limbo.
Não?
Preciso não-ver. Não-saber. Não-ouvir. Não-querer. Preciso deixar de ser eu. Preciso de uma máscara nova. Preciso de outro tipo de proteção contra o mundo, contra os outros. Arrogância. Desprezo. Egoísmo. Fodam-se. Fodam-se. Minha máscara derrete na presença da luz do incompreensível, preciso de outra.
E se eu voltar a pensar? A imaginar? A sonhar? A querer? Preciso de uma máscara para me proteger de mim mesmo. Não posso ser eu; não posso deixar que eu comande minha vida. Preciso ser forte, preciso não fazer o que eu quero, por que me fere. Fere os outros.
Finjo, então, não querer saber dos outros. Para protegê-los de mim. Para que não cheguem perto, para que não me conheçam. Para que eu não me conheça.
E quando eu morrer, Deus distribuirá o dinheiro das apostas.
Genial
Há 11 anos