Não tenho um pássaro na mão. Nada nesta mão, nada na outra. Vejo dois deles voando livres, soltos. Não valem nada: não estão na minha mão; não posso tocar, então vejo, observo. Eu sei ver. Não sei se sei tocar; eu sei ver.
Observo, todos os dias, os dois pássaros voarem juntos. Não sei o que dizem um ao outro. Parecem felizes. Um deles valeria mais em minhas mãos. Para mim. Eu estaria feliz, talvez: não sei se sei tocar. Não me contento em ver. Não me contento com o que sei fazer, não quero fazer o que sei fazer. Não sou feliz com os pássaros voando. Não sou feliz como os pássaros voando. Não valem nada. Para mim. Parecem felizes.
Se eu tocasse um deles, não sei se esse seria feliz. Eu seria feliz? Mesmo se esse pássaro não o fosse? Só por estar em minhas mãos? Talvez — não sei: não estão voando por que eu os soltei após segurá-los; nunca os toquei. Não posso tocar. Seria arranhado se tentasse. Fui arranhado uma vez. Duas. Não me lembro quantas. Não posso olhar as cicatrizes e contar o número de vezes: não posso vê-las, apenas as sinto relembrarem-se de seu nascimento, sempre que observo os pássaros.
Dói olhar para os pássaros. Dói. Mas não posso tocá-los, então os observo enquanto enxergo. Enquanto pulso. E eles se empanturrarão degustando meus olhos, quando estiver morto. Depois partirão, já famintos — porém pacientes —, à procura de outro, tão fraco quanto eu.
Genial
Há 11 anos