Todos nós fomos programados para acharmos que somos seres únicos. Somos diferentes um do outro, não temos nada em comum. Ninguém nunca antes sentiu o que sentimos agora; ninguém nunca se apaixonou como nós, ninguém nunca amou como nós, ninguém nunca odiou como nós, chorou como nós, riu como nós, sofreu como nós, pensou, sentiu como nós. Ninguém tem uma vida como a nossa, por isso ninguém sabe como nós sabemos como nós somos. Ou pensamos que sabemos ser quem somos. Nós somos o que sentimos, e sentimos o que pensamos sentir, o que infraconscientemente queremos sentir. E pensamos, e sentimos, e somos.
Mas outros são, ou foram, também, o que pensamos sentir sermos. Eles — os outros — também pensaram o que pensamos; sentiram e foram. Disseram-lhes que eram únicos — como a nós. Mostraram-lhes filmes com finais felizes, onde tudo acabava bem — como a nós. Disseram-lhes que era besteira o que sentiam, que passaria tão rápido como viera — como a nós. Entretanto...
Entretanto, isso tudo foi-nos dito por outros que também tiveram isso dito a eles. Podemos acreditar no que nos dizem os outros? Só se acreditarmos que estejam certos. Podemos descartar o que nos dizemos a nós mesmos? Só se acreditarmos que estamos errados. Mas os outros: os outros já passaram por isso! Os outros tiveram tempo de se entender. Os outros devem estar certos.
[Os outros, é claro, acreditaram no que os seus outros lhes disseram, e que foi-lhes dito por ainda outros. Ainda outros poderiam estar errados, poderiam ter pensado erroneamente, poderiam ter-se equivocado como é de costume à nossa espécie. Talvez o pensamento de um dos ainda outros estivesse incorreto, e estes passados a diante até chegar aos nossos outros, que tentam passarnos-los também.]
Enfim, o caos. Não sabemos quem somos se não nos disserem quem ser e não sabemos, quando o somos, se certos estamos em ser. Ou se cegos estamos de ver, escolha sua rima. Escolha sua vida, escolha seus textos. Não deixe que outros a escolham. Não deixe que eu a escolha: este texto é somente uma opinião minha, escolha-o como sua somente se também já for.
Para os que leram o texto, perdão: o texto não leva a nada. Sai do desespero e desembarca na falta de esperança, não é um guia, não ajuda. Apenas constata: nada sabemos, e assim foi desde o começo dos tempos.
Genial
Há 11 anos